Vestir o invisível: a Belício na exposição de Ernesto Neto no Grand Palais Immersif

Vestir o invisível: a Belício na exposição de Ernesto Neto no Grand Palais Immersif

Há encontros que não se marcam com antecedência — apenas acontecem. Como se já estivessem escritos nas tramas do tempo. Assim foi nossa passagem pela exposição Nosso Barco Tambor Terra, de Ernesto Neto, em cartaz no Grand Palais Immersif, em Paris, como parte da Temporada Brasil-França 2025.

Ao entrar na sala, não se entra apenas numa obra: entra-se num estado de suspensão. Em uma espécie de útero coletivo, tecido por mãos que conhecem a paciência do crochê, a leveza da casca, o perfume ancestral das especiarias. Tudo ali nos convida a desacelerar. A habitar o tempo da Terra.


O corpo como templo, a arte como ritual

Ernesto Neto é um dos nomes mais relevantes da arte contemporânea brasileira — e mundial. Com obras presentes em instituições como o Guggenheim (Nova York), o Centre Pompidou (Paris) e a Tate Modern (Londres), Neto não apenas cria esculturas: ele formula ecossistemas sensíveis. Sua linguagem, construída a partir de materiais orgânicos e técnicas têxteis, como o crochê, ultrapassa a estética e convida à experiência.

Desde o início dos anos 2000, sua obra se afasta do “olhar para” e se aproxima do “estar dentro de”. Nosso Barco Tambor Terra amplia essa filosofia. É um espaço habitável e meditativo, onde o visitante se torna parte da obra — ora tambor, ora barco, ora raiz.

É um chamado à coletividade. Ao resgate do corpo como espaço sagrado. À escuta profunda da natureza e das cosmologias indígenas, afro-brasileiras e femininas, que ecoam em cada ponto tecido.


Belício veste a arte, mas também se deixa vestir por ela

Para visitar a exposição, escolhemos um lenço feito com os retalhos da coleção Conquista. Um símbolo do que acreditamos: nada é sobra quando há afeto. Acompanhado da camisa tecnológica — resultado de uma pesquisa em tecidos inovadores — e da calça de alfaiataria bleu, da coleção Je T’aime, nosso vestir tornou-se também manifesto.

Moda, para nós, é mais do que aparência: é presença. É um modo de estar no mundo. Um corpo que se pensa, se protege, se comunica. Nesse sentido, vestir-se para ver Ernesto Neto é como preparar-se para um rito. Um rito de passagem, de volta para casa — a casa que habita dentro da gente.


Quando a arte e a moda dançam juntas

Há uma interseção vital entre moda e arte: ambas lidam com forma, matéria e significado. Ambas narram o espírito do tempo. Mas a Belício acredita que a moda pode — e deve — ir além do espetáculo. Deve ser gesto, afeto, provocação. Assim como a arte de Ernesto Neto.

Enquanto ele costura o invisível com fios de crochê, nós costuramos histórias com tecidos sustentáveis. Enquanto ele nos faz tocar o que não se vê, nós convidamos a vestir o que se sente.

Talvez seja por isso que a visita foi tão comovente: estávamos, enfim, diante de uma obra que compartilha da mesma utopia. A de um mundo que escuta mais, que sente mais, que respeita os ritmos da Terra e da pele.

A exposição segue até 25 de julho. Que você também possa entrar nela — e, ao sair, sair diferente.

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